Era Réveillon de 2019; o meu corpo não estava mais cansado do que o que afligia o meu coração. Saí de casa, queria estar por um instante sem ninguém. Recebi um convite, mas não deixei mais do que um abraço de gratidão.
Depois, corri com meus conflitos até o Parque Dilú Mello. Ao avistar o Bar Canto do Pôr do Sol, eu me recordei das vezes em que me senti à vontade ali: Dona Graça era uma graça de anfitriã. Sempre eu me sentava ao balcão do barzinho, era o meu canto preferido, sendo atendido pelo sorriso contagiante de Gracinha - a Dona Graça. Até queria tomar um vinho, mas, no momento, havia apenas a fermentação da cevada gelada.
O que eu não sabia era que ali acontecia uma confraternização entre amigos; conheci alguns, acenaram-me, retribuí. Então, pensei em sair, mas a anfitriã disse que eu era bem-vindo; o balcão estava disponível (o meu canto). Assentei-me e bebi algo rapidamente, contudo, antes de eu sair, insistiram que eu deveria comer da ceia fraternal e, mesmo tímido, não pude recusar: comi e agradeci por aquele gesto afetuoso.
Eu tenho dificuldades em me recordar de alguns momentos, mas aquela lembrança até hoje me parece muito translúcida; isso porque aquele 31 de dezembro estava sendo uma data em que o existencialismo me afogava como se eu estivesse em um mar agitado. Talvez esse momento tenha sido um dos únicos que trouxe um pouco de conforto ao meu coração, assim como aquele abraço no início da noite.
Eu não tinha mais nada a fazer ali e, novamente, mergulhei em uma bolha de incertezas e fuga. Fui para um banco e sentei-me, na praça do cais. Houve a virada do ano novo, “a despedida” do ano velho: a ordem da convenção social que diz que o mal que se passou deve ser deixado para trás. No entanto, meu coração teimoso insistia em recordar de tudo.
Aquela madrugada era minha amiga e única companhia e já tinha cinco horas de vida quando começou a chuviscar e eu ali, relutando em entender muitos porquês, sem querer ir embora. Ao abrir as minhas redes sociais e ver tantas pessoas “felizes”, com tantas promessas e metas para um ano novo, as lembranças mais adormecidas da família e amigos remoeram-se no instante em que o chuvisco ficou mais forte e esconderam todas as minhas lágrimas.
Fui obrigado a deixar o lugar que sempre me deixava com um pouco de paz e, por vezes, inspirou-me alguns textos. Porém, eu levantei dali certo de que eu venci mais um dia, mais um ano e que teria mais um dia, mais uma chance para vencer os meus medos e buscar em mim mesmo a certeza de que o amor era intrínseco do meu querer em ser feliz; era meu! Eu poderia compartilhá-lo ou não! Que ainda sozinho, eu tinha a mim: a pessoa mais importante da minha vida!
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6 Comentários
💗💗
ResponderExcluirGratidão!
ExcluirParabéns, confrade! Que suas crônicas possam aliviar corações. Essa me parece uma crônica importante para alerta o autocuidado e autoamor. Para que a vida flua bem, é preciso transbordar dores para se recomeçar consigo mesmo.
ResponderExcluirObrigado confreira! Justamente! Este é o ponto! Feliz por seu comentário e leitura. Saudações literárias!
ExcluirPerdido em suas lembranças, procurando um ponto de apoio e só encontrava a se mesmo, mas que no momento, não era suficiente para amenizar vossos anseios e brotar novas esperanças!
ResponderExcluirObrigado, por seu comentário e reflexão! Gratidão pela leitura!
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